quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A cultura do individualismo


"Não tento ajudar mais ninguém". Isso é o que muita gente diria em meu lugar ou até, muito provavelmente, o que eu deveria tomar como certo daqui em diante. Citarei o fato ocorrido hoje de maneira discreta para depois me expressar.

Há algumas semanas, um colega de trabalho comentou que uma certa garota em um certo local de trabalho, comentou com ele que tinha dúvidas na instalação de um pacote de aplicativos no seu computador pessoal. Quando encontrei a tal garota, aconselhei-a sobre como deveria proceder e que, caso tivesse alguma dúvida, poderia me ligar. Algum tempo se passou e eu perguntei à ela se já tinha resolvido a questão e ela me disse que ainda não. Mais alguns dias se passaram e resolvi adicioná-la no msn para que, caso ela ainda tivesse dúvidas, pudéssemos fazer uma instalação remotamente. E aí começou o escândalo. Antes que eu me desse conta, até os eucaliptos da minha rua já sabiam que eu a havia adicionado no msn e cochichavam sobre isso. Eu, que sou a parte mais interessada e deveria saber com riqueza de detalhes o que REALMENTE incomodou a vítima, só sei o que sei através de comentários.
Antes de mais nada, acredito que isso seja um assunto privado e deva ser tratado como tal. Mas num país onde quem ficou com quem em uma festa é mais importante que o andamento da pavimentação das ruas ou o investimento em bens públicos, do que estou reclamando?! Aproveitando que virou interesse público, estou postando para exprimir minha indignação.

Isso me lembra uma vez quando meu amigo tentou ajudar um cego a atravessar a rua em plena João Candido no meio da tarde e o velho recusou abruptamente se remexendo e empurrando meu amigo. Ao terminar com sucesso a travessia, bateu a bengala bem perto da haste do orelhão, não percebendo-o e acabando por bater a cabeça no mesmo.

Eu venho de um lugar onde as pessoas ajudam e são ajudadas por prazer individual e sem interesses ocultos. Não, não sou de uma vila hippie e lá também existiam problemas, mas em menor escala, aparentemente. Eu não aguento a sensação de alguém perto de mim precisando de ajuda sendo que está dentro dos meus poderes, ajudá-la. Eu posso ajudar alguém que não consegue instalar um programa. O que me custaria além de alguns minutos?! Por outro lado, dentro do mesmo raciocínio, não posso solucionar a fome no mundo.

Desde que cheguei em Londrina, as únicas coisas que os londrinenses conseguiram me provar são a extrema desconfiança em relação ao próximo, o medo da própria sombra e a ignorância nas ações de ajudar e aceitar ajuda. É lógico que toda ajuda ou favor são pendentes de aprovação, logo, ninguém é ajudado sem permitir o mesmo. Encarando de uma maneira simples, o que houve hoje foi apenas uma recusa de ajuda, nada que precise de repercursão num raio de quarenta quilômetros. Mas, o que nunca conseguirei entender, é como isso pode ser tão interessante. Por que fatos mínimos da vida alheia são encarados com tanta atenção e explodem tanta falsa indignação?! Eu espero nunca ter essa visão torpe das coisas...

O irônico é andar no trânsito e observar adesivos em janelas de carros que dizem "Quer um mundo melhor? Seja gentil". Com as pessoas jogando pedras, provocando uma humilhação junto a uma multidão de estranhos desligados aos fatos à uma pessoa que se propões a uma ajuda, fica muito difícil se expor a gentilezas.

Um comentário:

Chico disse...

É triste, mas é verdade. O jeito é manter a consciência limpa (e ter motivos pra fazer isso). Não gosto de clichê, mas é por aí.