quinta-feira, 19 de junho de 2008

Imin 100


Ontem foi a abertura do festival de comemoração dos 100 anos de imigração japonesa no Brasil. Foram gastos milhões de reais em toda essa festança. Além de todo o evento no Parque Ney Braga (o que nem deveria contar, uma vez que o que foi gasto vai voltar em dobro, no mínimo), foram gastos 2,5 milhões de reais para a construção de uma praça japonesa no centro da cidade. A praça ficou maravilhosa, entretanto, não creio que tenha sido gasto exatamente o que foi declarado. Espero que a praça não seja vítima dos pichadores de rua.
O parque estava tradicionalmente enfeitado, mas de uma maneira que poderia passar despercebida por olhos distraídos. A primeira impressão é: conheço esse lugar. Não estava muito diferente da exposição agrícola que acontece todos os anos no mesmo local. O mesmo parque, os mesmos comerciantes e quase os mesmos estandes. Era uma Expo sem cheiro de esterco. A comida estava cara como sempre e paguei a facada de R$2,50 numa lata de Coca, o que evidenciava o lucro que os organizadores teriam.
Eu estava, de início, somente com a Camila e estávamos somente nós dois quando adentramos no recinto onde aconteceria a cerimônia de abertura. Pegamos lugares e guardamos dois espaços para a Nati e a Miriam que iriam chegar. Quando as duas chegaram, tinha acabado de começar e estava lá pela quarta música que o coral infantil de sei-lá-onde estava cantando. Não gosto de coral infantil, mas isso é opinião pessoal. A primeira falha da cerimônia: mal-aproveitamento de espaço. As criancinhas do coral estavam ao extremo esquerdo da arquibancada. Elas estavam sendo filmadas e trasmitidas nos telões centrais, fato essencial para que eu pudesse perceber a segunda falha: playback. Não sei realmente se algumas crianças cantavam com playback ou apenas o playback tocava, o certo era que muitas crianças não estavam cantando.
Para uma abertura, o coral foi fraco. Tanto pela distribuição, quanto pela falha que citei e ainda pela fuga do tema musical. Não tomando aquilo como uma abertura oficial, guardei minha esperança de perfeccionismo para o que viria. O que veio foi um velho, que provavelmente é da Sociedade Rural do Paraná, agradecendo a presença de todos e dando início oficial à abertura.
Começou bem, a trilha inicial foi bem escolhida e teve uma coreografia representando a chegada dos imigrantes no Brasil. Crianças balançavam panos representando as ondas do mar e tinha uma réplica teatral do navio Kasato Maru. Descontando os muitos erros casuais na coreografia, estava tudo bonito. Em certo momento, saiu uma mulher de um baú que ficou dançando em boa parte da cerimônia (e eu fiquei até agora sem saber o que ela representava).
Trinta ou quarenta porcento da apresentação foi show de taiko. Aparentemente, os dois grupos mais conhecidos de taiko se apresentaram, o Ishin Daiko e Sansey. Eu, sinceramente, esperava algo muito melhor que taiko + playback. Como é visível, tenho repúdio à playback. Ele demonstra a preguiça e/ou incapacidade musical. Taiko não faltava, e esse foi o problema. Nada de outros instrumentos musicais tradicionais como koto, shamisen ou shukuhachi ao vivo. É evidente que não é nenhum zé-ruela que consegue tocar instrumentos desse gabarito, mas eu imagino que os japoneses mereciam homenagem menos preguiçosa. Convenhamos, qualquer ser-humano que tenha, no mínimo, duas mãos e dois neurônios consegue tocar taiko, assim como outros instrumentos complementares irregulares como pandeiro, cuíca e tambor de olodum. Não estou desvalorizando o instrumento e sua influência na cultura, mas é, sem dúvida, porco o negócio de colocar 500 negos tocando taiko e nem um único caboclo com um instrumento mais dificil e não menos tradicional. A mensagem ficou clara: promoção ao Sansey e ao Ishin Daiko. Muito tempo gasto para promover dois grupos que já estão mais surrados que minhas botas velhas.
Uma coisa imunda e completamente fora de nexo foi um show barato de cosplays. Apesar da perda de tempo com taikos, a coisa ainda estava rumando por um caminho certo, porém, depois, fudeu tudo. Pessoal com cosplay de Bleach, Naruto, Fullmetal Alchemist e One Piece fazendo ceninhas de batalha e essas coisas bem bobas das quais você só espera encontrar em eventos de anime da vida. Acabando com toda a seriedade do negócio, os cosplayers deram um show que não foi nada além do rídiculo comumente observado em eventos-otaku. A grande diferença é que alí não era lugar pra aquilo e se alguém vier com algum argumento do tipo "cosplay é da cultura japonesa", eu mando pro caralho porque cosplays virem dos quadrinhos, e tanto os quadrinhos quanto os cosplays nasceram nos Estados Unidos.
Como se já não tivessem estragado o suficiente, meteram Matsuri Dance no meio da coisa. Nada contra o matsuri, eu mesmo gosto de dançar, todavia, saiu da cronologia épica em que estava o clima (tirando o cosplay-show). Matsuri dá um clima de encerramento, mas ele foi colocado no meio da coisa e depois disso ainda tiveram algumas apresentações que seguiram o padrão tradicional e terminou com um desfecho simples, porém, bonito e uma queima de fogos maravilhosa.
O espetáculo teve suas partes boas mas foi muito desorganizado. Tempo demais para coisas que não mereciam tanto, inclusão de elementos que fugiam do objetivo e economia nos gastos com efeitos. Esperava uma chuva de flores-de-cerejeira e inesquecíveis shows de luzes mas fiquei na esperança. O gasto ficou nos fogos que, apesar de bonitos, não dão trabalho algum e não são a coisa mais criativa do mundo. Pecaram em criatividade. Ah! E mesmo nos fogos, aproveitaram mal o espaço do céu, os fogos ficaram agrupados de um lado só e apesar da riqueza dos mesmos, faltou distribuição, o que me fez lembrar o quão bem distribuídos são os fogos de reveillon em algumas cidades, mesmo que menos chamativos.

Fiquei decepcionado mas reconheço os pontos positivos. Enquanto o pessoal trabalha visando o máximo de lucro possível, não dá pra sair uma coisa muito boa mesmo. Na cerimônia, a propaganda explícita e a miséria de efeitos foi o pecado; já no evento, o débito foi na decoração e nos poucos pontos comerciais japoneses, tinha muito mais do comércio brasileirão de exposição agropecuária, fato que tirava o clima oriental que se pretendia passar.

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Now playing: Nightwish - Angels Fall First

9 comentários:

Anônimo disse...

What a great moment of reading blogs.

Lika disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lika disse...

odiei a parte dos cosplays, de fato XD~
eu gostei da apresentação, de maneira geral, e mesmo considerando propaganda e falta de efeitos e etc, etc. Em comparação com muitas outras aberturas de outros eventos no país, essa foi a primeira coisa que pode ser chamada de decente e que eu presenciei em londrina, mesmo. Algumas coisas não fizeram sentido, e foi meio cansativo, mas foi bem bonito sim *-*
yaauhahua
:*

rafael krawulski disse...

dada a entrada, eu esperava coisas muito mais orientais também D:
enfim, mas pelo menos o evento está sendo legal (:
pelo que me pareceu, a segurança está melhor do que a da exposição, uma vez que tinha uma emrpesa de segurança responsável por revistar os visitantes. ou seja, sem risco de bala perdida como na expo o/

Anônimo disse...

- eu achei bonito ;D
também esperava uma coisa mais oriental, mas chuva de sakuras ia ser dificil mesmo hein XD
ASJOAPSJOASJPOAJSOJASOJAPOSJPOASq

Lika disse...

que música linda *-*

Cami Pereira disse...

ela representava esperança, eu acho :3

Anônimo disse...

Concordo em quase tudo, talvez até concorde com a crítica ao coral infantil, mas essa me doeu um pouco, pois as crianças que cantaram eram de escolas municipais que fazem parte de um projeto da prefeitura. A maioria mora na periferia e foram participar com orgulho e dedicação. Muitas tiveram sua última refeição às 16h na escola e voltaram para suas casas, lá pelas 10h, sem comer e beber ao menos uma água. Além de tudo foram discriminadas (por isso que estavam no canto), pois do lado deles estavam os alunos do Maxi e os seguranças não permitiam que esses alunos do município ao menos utilizassem o banheiro que era só para os alunos do Maxi. Mais agravante: passeiaram pouco pelo parque, pois por todo lado tinham algo de bom para comer e eles não tinham um centavo. Não sou política, nem defensora dos pobres e oprimidos, já trabalhei em uma escola de periferia e não é fácil lidar com eles, mas injustiça não curto. Tudo o que te relatei foi me contado de forma indignada pela minha cunhada que é professora em uma escola dessa e acompanhou as crianças para a apresentação.Mas continue escrevendo as suas idéias, seus pensamentos, pois são extremamente interessantes e me fazem pensar.
Beijos
C.

Chico disse...

E lotou, hein.